quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O uso da cultura como estratégia de segurança de uma cidade


O uso da cultura como estratégia de

segurança de uma cidade



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Por mais que se diga que um governo pratique a divulgação da cultura local, é do povo que vive nas ruas e nos arrabaldes, que surge a cultura. Por mais que se diga que um governante prioriza a cultura, as suas ações estão direcionadas a um povo que modifica a cultura. Constrói e valoriza a cultura ao longo do tempo.  Por mais que se diga que determinada pessoa pratique, divulgue e valorize a cultura, ela não emana de apenas uma pessoa, mas de um povo emanado em conjunto. A conservação e o resgate, estão em poder de um grupo restrito, que cultua e preserva em atos ou livros. Registros gráficos, fotográficos e cinematográficos, para perpetuarem no tempo, e com outras estratégias de TIs.

Por mais que se diga que algo é cultura, perde-se um grande tempo em elencar o que é cultura, e a quem pertence determinada cultura. Como foi formado o conceito de cultura, e aquela manifestação apontada. Existem culturas de artes, de culinárias, de usos, e culturas de comportamentos. Um extenso elenco de cultura, perpetuado, e em um tempo. O palco da cultura está nas ruas, o espaço lúdico e público.

Por mais que se diga que a cultura está contida em livros e textos, em livrarias ou bibliotecas. Foi nas ruas, que foram coletadas as manifestações, as festas e os costumes, para se tornarem literatura. Alguém coletou, estudou, classificou e descreveu, com o uso de letras e palavras, fatos e costumes observados nas ruas. E até gravuras, pinturas e fotografias. Das ruas como sítios arqueológicos, de coleta de dados. Os fatos e causos seguem para um laboratório, de química, física ou biologia; laboratórios da psicologia e sociologia contidos nas cabeças dos fotógrafos, pintores, desenhistas e escritores. A partir de ideias e pensamentos, com comportamentos psicológicos ou sociais, individuais ou coletivos. E é produzido um texto sobre uma tela, pintadas com traços, cores e letras.

Por vezes coleções de livros, surgem a partir de artigos e monografias, dissertações e teses. Normas e critérios da academia que diz produzir conhecimento.  Diagnosticando, teorizando, tabulando, classificando, ..... Dizendo o que é, e o que não é cultura, sem o voto ou a opinião do povo, o produtor de cultura.

O turista pode chegar a uma cidade, e conhecer a cultura do local, em praças e feiras, avenidas e mercados. E levar um livro de um escritor local, como lembrança de uma estadia, aumentando o seu conhecimento. Retornando ao local, fará outras incursões para novos esclarecimentos e conhecimentos. O envolvimento com a cultura, através de uma imersão. Fotos e gravuras também cabem muito bem, em uma mala, em pastas, ou simplesmente enroladas. Um canudo representando um conhecimento. O conhecimento adquirido em uma viagem. O arquétipo do darwinismo. Um canudo documentando, um curso rapido de história e geografia.

Livros, com teorias e teses podem ser, e na maioria são, construídos e criados por mestres e doutores, e para mestres e doutores, excluindo os atores. Atores sociais, em diversas camadas da sociedade, classificados em castas, entre o inculto e o mais culto. E seus textos e discursos, em ambiente acadêmico, quanto mais rebuscados e difíceis, a sua compreensão, mais valorosos e famosos ficam diante de seus colegas.

Mas boa parte da cultura não está escrita, ela é executada e exercitada pelo povo nas ruas. As cidades com seus espaços públicos de avenidas, ruas e praças. E é a acessibilidade quem abre alas para cultura, com calçadas, rampas e faixas para pedestres. Praças vazias e avenidas com carros é ausência de povo exercendo uma cultura, no espaço cultural, as ruas. Ruas e calçadas infestadas de carros é excesso de industrialização. Cada carro ocupa o espaço de várias pessoas, em praças ruas ou calçadas. Impedem pedestres de atravessar as ruas e chegar em outras praças ou calçadas. Impedidos de promover e acessar a cultura.

Cultura de carros, ocupar rampas e calçadas, atropelar turistas e ciclistas, não é uma cultura desejada. Aos governantes cabe governar a cidade. Administrar problemas. Administrar vias de acesso para uma diversidade de atores, com estratégias de deslocamentos diversos. Necessitam exercer seus atos, seus deslocamentos, seus conhecimentos. Saberes e sabores, precisam ser repartidos.

Uma população movimenta uma cidade; trabalha, estuda, desloca-se, gera impostos, andando ou parado. Morando gera IPTU, trabalhando gera ISS, consumindo gera ICM. Pode produzir bens e serviços. E outros impostos diversos embutidos em produtos, serviços e mercadorias. Existe um conhecimento fora das escolas, que pode ser adquirido nas ruas. Como a geografia e a história, as origens da cidade. Com um simples observar de placas com o nome da rua. E estatuas ou esculturas em praças.

A cultura emana do povo, e cabe a prefeitura preservar a cultura de hábitos e raízes, evitando uma cultura de desprezo e desconsideração entres seus moradores, seus atores sociais. E que não chegue a uma cultura de bang-bang, ou do legendário sertão.



Natal como um case cultural

Natal está em território potiguar, a evidencia da presença indígena. Uma cidade que já foi invadida e preterida por outros povos. Invasões nem sempre pelo uso da força ou da pólvora, mas pela presença e o uso de outras culturas, com modas e costumes. Por fim Natal não criou uma identidade. Resultou em uma cidade mista, com tudo junto e misturado. Entre o mar e a terra, entre o brasileiro e o estrangeiro. O ponto de apoio entre os continentes.

Da propaganda internacional surgiu um canal de resposta.

Canal de Resposta
Natal vem sendo divulgada pela mídia, como uma das cidades mais violentas do mundo
Resultado de divulgar para o mundo, coisas que não tem
Camelos, lagoas, dunas, bugres, e o maio cajueiro
Agora leva a culpa por inteiro

A violência não acontece somente por um fato, não é simplesmente aquela cometida em um delito armado. A violência acontece com os usos e abusos do direito. Começa com o desrespeito ao espaço do outro, como um automóvel ameaçando o pedestre, o cadeirante ou o ciclista, tomando e ocupando o seu espaço. O uso do automóvel como arma, seja ela branca, de status ou de poder; um bólido ou um petardo.

A cultura emana do povo, e se, se deve dar a Cesar o que é de Cesar, deve-se dar ao povo o que é do povo.



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